Por Marcelo Benevides
Por conta da proibição de entrada nos Estados Unidos, em função da pandemia de coronavírus, milhares de estudantes brasileiros passaram a enxergar uma luz no fim do túnel. Sem apoio do Itamaraty, eles ganharam aliados importantes. Parlamentares americanos entraram em ação, enviando uma carta ao Departamento de Segurança Interna, solicitando que o governo federal reveja a sua política de barrar estrangeiros no país por tempo indeterminado.
Nesta quinta-feira, a senadora Patty Murray (D-WA), principal democrata no comitê de educação do Senado, se juntou a Elizabeth Warren (D-MA), Ed Markey (D-MA) e à deputada Pramila Jayapal (D-WA). Os democratas querem que as orientações recentes, que proibiriam a chegada de novos estudantes internacionais de faculdades e universidades, sejam revisadas. O texto considera uma diretiva xenófoba da Immigration and Customs Enforcement (ICE), que queria deportar todos os alunos internacionais com cargas horárias apenas online, mas revogada após um desafio legal e forte pressão no Congresso.
“Muitas instituições de ensino superior começarão as aulas nas próximas semanas, a maioria das quais está planejando predominantemente o ensino online, e ainda há interrupções em curso decorrentes da orientação de sua agência para alunos localizados no exterior. Estima-se que 250 mil estudantes internacionais planejam entrar nos Estados Unidos no próximo ano acadêmico, como novos ou antigos alunos. Esses estudantes e universidades precisam de respostas claras para planejar suas vidas e se preparar para os estudos para o próximo semestre”, diz a carta.
A reportagem do “SigAlerta” conversou com Daniel Setton, estudante da University of Evansville, no estado da Indiana. Um misto de sentimentos reflete o seu momento: preocupação, angústia, esperança e até indignação, justificada pela inoperância do órgão do governo brasileiro, responsável pela diplomacia do país:
“O Itamaraty alega que não pode fazer nada pelos estudantes, porque não pode ferir a soberania de um país. Isto é um absurdo! É claro que eles podem negociar, solicitar uma atenção especial aos Estados Unidos para o nosso caso. Afinal, o Brasil liberou a entrada dos americanos durante a pandemia, sem contrapartida. Poderia dizer: “estamos aceitando os seus turistas, vocês não podem aceitar os nossos estudantes?”. Isto é síndrome de vira-lata”
Com aulas marcadas para iniciarem no dia 26 de agosto, o estudante vive uma verdadeira epopeia em busca de auxílio. Alguns deputados já tomaram ciência do caso e prometeram pressionar o Itamaraty para, ao menos, tentar uma saída alternativa.
“Eles podem sugerir, por exemplo, que os estudantes passem por uma testagem de Covid-19. Todos nós faríamos sem o menor problema. Eu já fui contaminado e tenho anticorpos, mas se tiver que fazer o teste novamente, eu o faria tranquilamente. Podem fretar voos com os estudantes, enfim, existem possibilidades. Basta ter vontade de ajudar”, cobrou o estudante.

Estima-se que, cerca de 10 mil alunos brasileiros de instituições de ensino americanas, estejam à espera de uma solução. A maior preocupação é com a bolsa de estudos adquirida por muitos deles, como no caso de Daniel, que pode ser perdida, caso um número de aulas não seja cumprido, o que levaria também ao cancelamento do visto americano.
“Para continuar com status legal nos Estados Unidos, é preciso manter a presença nas aulas, senão eu deixo de ser um aluno integral e perco a minha bolsa e, consequentemente, o visto de estudante”, explica ele.
Sobre a carta dos democratas ao chefe do departamento de segurança, Chad Wolf, o foco está errado, na visão do brasileiro, pois daria a chance de o governo americano alegar que aulas online não precisariam da presença dos alunos nos Estados Unidos, segundo ele:
“O governo americano poderá alegar que estes alunos podem estudar em qualquer lugar com as aulas pela internet. Mas e aqueles que têm o sistema de aula online e presencial, como ficaria?”.
Enquanto a pressão ocorre, os alunos brasileiros seguem se organizando. Um perfil no Instagram foi criado e já conta com mais de 5 mil seguidores, em sua grande maioria composto por estudantes vivendo o mesmo dilema de Daniel: “wetheforeigners”. Para conhecer a página, acesse: