Por Marcelo Benevides (Editor executivo do site SigAlerta)
Se fosse no Brasil, poderia ser mais um “Silva que a estrela não brilha”. Já que se trata dos Estados Unidos, O “Rap do Silva”, funk de grande sucesso nos anos 90, encaixaria na realidade americana. Basta substituir o sobrenome pela cor da vítima, em geral, a mesma tonalidade alvejada pela brutalidade policial. Mais um negro teve a sua pele cravejada de balas, aparentemente, por não obedecer a um comando da autoridade. Desta vez, o caso ocorreu no estado do Wisconsin.
À plena luz do dia, por volta das 17h (horário local), dois policiais atenderam a um chamado por uma susposta briga doméstica, neste domingo. Identificado como Jacob Blake, o pai de três filhos está em estado grave, no hospital, após levar vários tiros nas costas. A cena é acompanhada pela família, incluindo as crianças. Uma barbárie!
Os dois policiais foram afastados do serviço preventivamente. O advogado Ben Crump, que agora representa a família Blake, postou um vídeo do tiroteio, na cidade de Kenosha. A filmagem se espalhou pelas redes sociais, gerando protestos e levando autoridades do condado a instituir um toque de recolher que permaneceu em vigor até segunda-feira de manhã.
O tiroteio ocorreu enquanto os manifestantes continuavam a denunciar a violência policial nas cidades americanas, incluindo os encontros que mataram George Floyd e Breonna Taylor. Na noite anterior ao tiroteio de Blake, protestos eclodiram em Lafayette, Louisiana, depois que a polícia matou um homem negro – Trayford Pellerin, 31 – em frente a uma loja de conveniência.
Em Kenosha, uma cidade de 100 mil habitantes, localizada na costa do Lago Michigan entre Chicago e Milwaukee, os manifestantes quebraram janelas e espalharam pichações em um prédio administrativo do condado de Kenosha.
Os veículos de uma concessionária de automóveis nas proximidades foram incendiados, assim como um tribunal do condado e policiais com equipamento tático formaram uma linha para proteger um prédio de segurança pública.
A chamada para o 911 foi relatada como perturbação doméstica, mas não está claro quem ligou. O tiroteio se desenrolou em uma rua residencial repleta de prédios de apartamentos, a um quarteirão de um campo de golfe da cidade.
No vídeo, o homem negro dá a volta na frente de uma SUV cinza com dois policiais a dois passos atrás dele, um com a arma apontada para as costas do homem. Quando ele entra pela porta do lado do motorista de seu carro, o policial dispara. Pelo menos, sete tiros são ouvidos.
Diante de inúmeros relatos, incontáveis episódios de truculência policial contra a mesma raça, o clássico do funk poderia perfeitamente inspirar um rap americano – quem sabe? -, como “era só mais negro que a estrela não brilha”… Até quando?